Desde há muitos anos que somos bombardeados com a noção de que para perdermos peso basta termos força de vontade. Se bem que existe alguma verdade nesta frase, ela está longe de ser totalmente verdadeira.
Sem dúvida que precisamos de força de vontade para não comer mais um pouco daquele alimento que nos estava a saber tão bem, ou mesmo para não encomendar aquele prato excessivamente calórico mas que sempre gostamos, e claro, para ir fazer exercício quando chegamos cansados do emprego ou acabamos de acordar.
Para todas estas situações a motivação (interna, ou externa) é algo sem dúvida importante para conseguirmos atingir os nossos objetivos, em especial quando estes indivíduos são adequadamente acompanhados por profissionais.
Mas esta frase deixou de fora todos aqueles que não conseguem resistir a consumir determinados alimentos porque “o organismo lhes pede” – com uma intensidade que os fazer muitas vezes sair de casa para ir comer o alimento que tanto desejam. Com a noção generalizada de que basta ter força de vontade para resistir, os sentimento de culpa acumulam-se.
Que tal deixarmos que culpabilizar e começarmos a perceber porque é que determinada pessoa tem tanta vontade de consumir determinados alimentos?
Ao entendermos as verdadeiras razões que levam a esta compulsão alimentar, podemos voltar a colocar este individuo no patamar onde basta ter força de vontade para perder peso, pois só nessa fase a decisão para deixar de comer certos alimentos vai passar a ser “controlável” apenas pela força de vontade.
Quem nunca sentiu uma compulsão destas, mas apenas um “sabia-me muito bem comer aquele alimento”, não vai entender a sensação de “desconsolo”, de que “falta qualquer coisa” ou o estado de ansiedade e irritabilidade quando racionalmente tentamos “ter força de vontade” para não comer. Esta força de vontade até pode resultar numa ou noutra refeição, mas não tarda muito a voltar, e por vezes de forma ainda mais intensa. Este desconsolo para alguns começa logo depois de almoço, já para outros tem início no final da tarde / noite, enquanto outros chegam mesmo a acordar a meio da noite para consumir determinados alimentos.
São diferentes os motivos que condicionam esta compulsão alimentar e cada individuo tem de ser avaliado cuidadosamente.
Podem haver motivos psicológicos (stress, ansiedade, insatisfação laboral, entre outros) e alguns destes motivos psicológicos podem ainda ser exacerbados por deficiências nutricionais ou alterações da flora intestinal (ou microbioma).
Para algumas pessoas é mesmo uma questão fisiológica (como por exemplo o caso do síndrome pré – menstrual), ou mesmo de adição, não havendo qualquer questão psicológica por resolver – e neste caso basta identificar o desequilíbrio alimentar ou nutricional para se corrigir. Há casos em que as causas se misturam e é possível identificar 3 ou 4 fatores que podem condicionar esta necessidade de consumo alimentar exagerado.
Quando a compulsão é por hidratos de carbono está muitas vezes relacionada com características individuais, combinações de alimentos menos corretas e o stress. Para muitas destas pessoas, um pequeno almoço de chá/café com bolachas ou sumo natural com pão com manteiga vai fazer com que no final de dia haja uma elevada compulsão alimentar por alimentos ricos em hidratos de carbono/doces. Esta compulsão alimentar não se resolve com “força de vontade”, mas sim com uma alimentação adaptada que impeça estas compulsões.
O que comemos influencia a produção de diferentes hormonas e neurotransmissores que influenciam o nosso humor, e instintivamente sabemos disso – por isso é que quando queremos uma determinada sensação, ou perante um determinado sentimento temos tendência a ir buscar determinados alimentos.
Quem tem insónias procura apoio profissional, e quem tem uma compulsão alimentar deve fazer o mesmo. Dizer a alguém com uma compulsão alimentar que basta “ter força de vontade” é, para mim, bastante parecido com dizer a uma pessoa com insónias que basta deitar-se e fechar os olhos para conseguir dormir.