Todos nós já sentimos “borboletas” no estômago antes de um acontecimento importante, alguns podem já ter experienciado náuseas perante uma má noticia que muda a nossa vida, e já outros sabem da relação clara entre os seus níveis de ansiedade e o funcionamento intestinal.
Pois é… existe uma relação clara entre o que se passa no nosso cérebro e o funcionamento do nosso trato gastrointestinal, mas sabia que o contrário também é possível?
O que se passa no nosso trato gastrointestinal influencia direta ou indiretamente a forma como o nosso cérebro funciona.
Comecemos pela relação mais óbvia: uma má absorção e má digestão condiciona uma má absorção de diferentes vitaminas, minerais, aminoácidos, ácidos gordos ómega 3 e outros nutrientes importantes para o funcionamento cerebral. Um cérebro desnutrido vai assim manifestar-se de diferentes formas, nomeadamente depressão, irritabilidade, ou perda de capacidade de raciocínio ou criatividade.
Os alimentos podem influenciar o funcionamento cerebral, quer através da absorção de moléculas mal digeridas (como é o caso das gluteomorfinas), quer através do efeito de determinados aditivos alimentares. Além disso, a ingestão de alimentos que ativam o nosso sistema imune intestinal, como as sensibilidades alimentares (vulgarmente chamadas de intolerâncias alimentares), induzem a produção de medidores inflamatórios que chegam ao cérebro, podendo influenciar o seu funcionamento. Diferentes estudos têm relatado a relação entre a presença de uma inflamação crónica e alterações do humor e depressão. Quem tem uma doença crónica inflamatória pode estar deprimido por causa desses mediadores inflamatórios, e não apenas por motivos psicológicos (ou nutricionais). Torna-se por isso importante tratar do organismo como um todo.
O nosso trato gastrointestinal possui uma enorme quantidade de células nervosas que constituem o sistema nervoso entérico (ou seja, o sistema nervoso do intestino), e estas células usam grande parte dos mesmos neurotransmissores que usamos no cérebro. Cerca de 80% da serotonina está no intestino – talvez por isso é que a depressão e a obstipação (prisão de ventre) estão quase sempre associadas. Muitos chamam o intestino de 2º cérebro.
A flora intestinal que habita o nosso trato gastrointestinal têm ainda revelado um importante papel quer no desenvolvimento do nosso cérebro, quer no nosso comportamento. Nesta área inovadora de investigação têm-se investigado o papel desta flora intestinal em doenças como a obesidade com resultados muito interessantes! Aparentemente, a presença de determinadas bactérias no nosso trato gastrointestinal está associada à obesidade.
Alguns microrganismos têm revelado um papel importante em situações como enxaquecas, ansiedade, depressão ou mesmo no autismo. Aparentemente, estes microrganismos são capazes de modular o desenvolvimento de algumas estruturas do nosso cérebro desde a 1ª infância, e são ainda capazes de produzir diferentes compostos que, quando absorvidos, podem actuar no nosso cérebro influenciando o nosso comportamento.
Esta é uma área de estudo em plena expansão, e dentro de uns tempos o nosso nível de conhecimento sobre a relação intestino cérebro será bem maior. Actualmente é já possível melhorar diferentes alterações comportamentais através da melhoria da saúde intestinal, e vice versa – pois não se esqueça que esta relação funciona nos dois sentidos!