Quando pensamos em infeção, inflamação ou no nosso sistema imunitário raramente pensamos no intestino, mas está na altura de o começar a considerar!
No nosso intestino, existe o chamado tecido linfóide associado à mucosa ou GALT(gut associated linfoid tissue), onde está situado uma grande parte do nosso sistema imune, que é o local com maior concentração de células imunológicas do organismo. Faz todo o sentido que assim seja, pois diariamente o nosso intestino entra em contato com as inúmeras moléculas que ingerimos através dos alimentos (nutrientes, químicos, poluentes), ou que engolimos inadvertidamente.
Além disso, o nosso intestino alberga uma quantidade imensa de microrganismos, capazes de produzir diferentes compostos, e que estão numa constante interação com a parede intestinal e esta nossa porção do sistema imune.
Logo, se pretendemos ter um sistema imune competente e eficaz, temos obrigatoriamente de falar da importância da nossa flora intestinal (ou microbioma intestinal), e dos efeitos que algumas bactérias têm revelado na melhoria em diversos estudos científicos.
Microbioma intestinal
O nosso microbioma intestinal (ou flora intestinal) é constituído por diversas populações microbianas que habitam de forma simbiótica o intestino, tantos dos humanos como de outros animais. Em situações normais, um intestino pode conter cerca de 400 – 500 espécies de bactérias que vivem em equilíbrio, que contribuem para o aumento das defesas do hospedeiro, quer por ação direta sobre os microrganismos potencialmente patogénicos, quer pelo aumento da capacidade do sistema imune do hospedeiro. Diferentes estudos têm revelado a importante de uma flora intestinal equilibrada para o desenvolvimento adequado do nosso sistema imune.
Quando por diferentes razões a nossa flora intestinal se desequilibra, nomeadamente após a toma de antibióticos poderá ser necessário recorrer à toma de probióticos.
Probióticos e sistema imune
Os primeiros estudos científicos publicados sobre probióticos foram elaborados por Metchnikoff no início do século XX. Este biólogo ucraniano e vencedor de um prémio Nobel foi o primeiro a estabelecer os efeitos benéficos para o Homem, obtidos com o consumo de alimentos fermentados por uma bactéria chamadaLactobacillus bulgaricus. Este investigador dedicou a sua última década de vida ao estudo das bactérias ácido lácticas, e definiu-as como bactérias que teriam efeitos benéficos no hospedeiro, porque antagonizavam bactérias prejudiciais que tinham capacidade de crescer no intestino.
Desde aí, diferentes estudos têm vindo a revelar as diferentes formas pelas quais estes microrganismos influenciam o nosso sistema imune, nomeadamente a produção de compostos que exercem efeitos imunomoduladores ou a capacidade de alterar o funcionamento das nossas células imunitárias. Ainda há muito por descobrir sobre este assunto, mas já se sabe muito sobre o que estes microrganismos são capazes de fazer por nós.
Enquanto alguns destes estudos se centram na descoberta dos mecanismos de ação dos probióticos sobre o sistema imune, já outros centram-se na utilidade em diferentes doenças conhecidas, como é o caso da asma, da rinite, das alergias, do eczema atópico ou mesmo na doença inflamatória intestinal.
Atualmente já existem diferentes preparações de probióticos no mercado, algumas de excelente qualidade, já outras nem por isso… Quando escolhemos um probiótico há diferentes factores a ter em conta – as espécies incluídas nesse determinado probiótico, as quantidades e a viabilidade destas, e claro as alterações gastrointestinais e diagnóstico a quem se destina o probiótico. Se por um lado há probióticos que podem ser usados por todos os que pretendem manter uma adequada flora intestinal, já no caso de se pretender diferentes efeitos terapêuticos com o uso deste probióticos, a seleção tem de ser bastante cautelosa, devendo ser feita por um especialista.
E não se esqueça que um dos principais motivos para a alteração da composição desta nossa flora intestinal é a toma de antibióticos – por isso, não se esqueça: sempre que tiver que tomar um antibiótico tome um probiótico para repor as suas bactérias benéficas!