Os primeiros estudos científicos publicados sobre probióticos foram elaborados por Metchnikoff no início do século XX, no ano de 1907. Este biólogo ucraniano e vencedor de um prémio Nobel, foi o primeiro a estabelecer os efeitos benéficos para o homem, obtidos com o consumo de alimentos fermentados por Lactobacillus bulgaricus. O termo probiótico só surge em 1965, tendo sido proposto por Lilley e Stillwell. Atualmente existem milhares estudos publicados sobre estes microrganismos, com descrição dos seus efeitos benéficos na saúde.
Terapia com probióticos:
A terapia com probióticos consiste na suplementação de bactérias vivas, de forma a aumentar a sua quantidade no lúmen do trato gastrointestinal. Podem ser usadas bactérias que normalmente habitam o intestino humano, ou outras espécies que tenham demonstrado determinadas vantagens para o hospedeiro. Esta terapêutica pode ser utilizada em casos de disbiose, de forma a repor o equilíbrio da flora intestinal, ou com um objetivo específico, através da utilização de uma ou algumas determinadas estirpes bacterianas que possuam efeitos precisos no organismo humano, existindo atualmente inúmeros estudos publicados.
A suplementação pode ser feita de forma farmacológica através do uso de formulações específicas (existentes em comprimidos, cápsulas, pó, entre outras), ou mediante a ingestão de alimentos enriquecidos, nomeadamente alimentos fermentados. Dada a grande diversidade de produtos existentes, com diferentes espécies, quantidades, e características técnicas do produto, deve-se fazer uma seleção cuidadosa antes de escolher o produto a usar.
Efeito dos probióticos na saúde
Os probióticos podem atuar de diferentes maneiras e em diversos sistemas orgânicos. Alguns destes efeitos estão comprovados por diversos estudos científicos, mas outros ainda é necessário mais investigação:
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Efeitos imunológicos, nomeadamente de imunomodulação, como no caso de alergias (em especial a alimentos), nas doenças inflamatórias intestinais (como a doença de Crohn e colite ulcerosa) ou mesmo em doenças crónicas inflamatórias e/ou autoimunes. Possuem ainda capacidade de estimulação da resposta imune, com efeitos no tratamento de infeções intestinais, nas infeções do trato urogenital feminino, no aumento da capacidade de recuperação de doenças. Têm ainda um papel adjuvante da vacinação;
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Aumento da proteção do hospedeiro, prevenindo infeções por microrganismos patogénicos, nomeadamente efeito antiviral, anti – bacteriano e anti – fúngico (em especial da Cândida albicans) e de promoção do efeito barreira do intestino;
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Regulação dos distúrbios intestinais, como melhoria da obstipação, controlo da diarreia de diferentes origens, osmótica, pós antibioterapia, pós radioterapia, prevenção da diarreia do viajante e melhoria da flatulência. Têm ainda efeitos benéficos no síndrome de intestino irritável e no síndrome de hiperpermeabilidade intestinal;
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Otimização do estado nutricional, através da melhoria da digestibilidade (em especial da lactose, do aumento da absorção de vitaminas e minerais, ao produzirem vitaminas do complexo B e vitamina K;
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Prevenção do cancro, através da diminuição de compostos cancerígenos, e da produção de compostos benéficos a partir da soja;
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Diminuição da sobrecarga tóxica, através da diminuição da absorção de toxinas, e do auxílio na desintoxicação hepática;
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Prevenção da doença cardiovascular, através da diminuição do colesterol plasmático , prevenção da aterosclerose e melhoria da hipertensão arterial;
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Reposição ou reequilíbrio da flora intestinal e melhoria do bem estar.
É importante referir que estes efeitos na saúde dizem respeito a todas as espécies de microrganismos estudados como probióticos. Há por isso espécies capazes apenas de alguns destes efeitos, enquanto outros efeitos são obtidos apenas quando usamos grupos específicos de algumas espécies selecionadas . O número e a viabilidade das bactérias usadas é outro fator de extrema importância a ter em conta na seleção dos probióticos.
Para se otimizar a terapêutica com probióticos deve-se objetivamente definir quais os resultados esperados, para que desta forma sejam usadas as formulações que possuam a espécie, ou espécies mais apropriadas, e garantindo que estas atinjam o lúmen intestinal em número suficiente e em condições de poderem exercer a sua função. Por exemplo, sabe-se que os suplementos com bifidobactérias possuem melhores resultados nos casos de obstipação, e os lactobacilus corrigem melhor a diarreia.
Microrganismos usados como probióticos
A grande maioria dos microrganismos usados como probióticos pertence aos géneros bacterianos não patogénicos da flora intestinal normal, em especial as bifidobactérias, e as bactérias ácido-lácticas, sendo também é usada uma levedura, a Sacaromyces boulardii.
Existem diferentes espécies de bifidobactérias usadas como probióticos, nomeadamente a B. Bifidum, a B. Thermophilum, a B. Breve, a B. Longum ou a B. Lactis. Quanto às bactérias ácido lácticas, as mais usadas pertencem ao grupo dos Lactobacilus, nomeamente o L. Acidophilus, o L. Bulgaricus, o L. Casei, o L. Plantarum, o L. Reuteri ou o mesmo o L. Rhamnosus GG. O Streptococcus thermophilus (que conhecemos pelo iogurte) é também usado como probiótico.
O Saccharomyces boulardii é o único microrganismo probiótico que não é uma bactéria, sendo uma levedura não patogénica, e não simbiótica (pois não é um habitante normal do intestino humano). É classificada como probiótico porque apresenta bons resultados no tratamento da diarreia, em especial na diarreia associada à toma de antibióticos.