No dia em que a dieta mediterrânica foi classificada como Património Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) em Baku, no Azerbaijão, pensamos que devemos clarificar a razão pela qual se considera esta dieta como uma das mais saudáveis do mundo.
A transmissão destes saberes e práticas de geração em geração na criação de uma identidade cultural e social, a sensibilização para a necessidade de consumir produtos saudáveis, a salvaguarda desta cultura através de medidas e legislação adequada foram outras razões apontadas para a classificação da dieta mediterrânica.
O envelhecimento da população nos chamados países desenvolvidos é actualmente uma das maiores preocupações do ponto de vista social e de saúde. O aumento da esperança de vida é a causa de um aumento da prevalência de doenças relacionadas com o envelhecimento, como por exemplo as doenças cardiovasculares, metabólicas e neuro-degenerativas.
No processo de envelhecimento acontece de forma natural uma diminuição do rendimento cognitivo, principalmente da memória. Uma alimentação adequada, entre outros factores como a actividade física e mental, pode ajudar a minimizar os efeitos da passagem dos anos.
Numerosos estudos epidemiológicos sugerem que alimentos como as frutas, verduras, peixe, vinho, azeite e frutos secos, típicos da dieta mediterrânica podem ajudar a travar o declínio cognitivo associado à idade avançada. Isto ocorre devido ao facto destes alimentos serem ricos em nutrientes como os ácidos gordos mono e polinsaturados, as vitamina B, D e E, polifenóis e outros com comprovados efeitos antioxidantes.
Ou seja, quer dizer que o padrão alimentar típico dos países mediterrânicos parece ser aquele que está melhor relacionado com uma menor incidência de deterioração cognitiva leve e de doenças neuro-degenerativas. Recentemente foram publicados alguns estudos que demonstraram os efeitos benéficos da dieta mediterrânica sobre diferentes doenças incluindo as cardiovasculares, metabólicas e neuro-degenerativas.
Em relação à deterioração cognitiva, um estudo recente realizado com sujeitos sem doenças vasculares previas mas de alto risco cardiovascular e com idades compreendidas entre os 55 e os 80 anos conseguiu demonstrar que o consumo de azeite virgem, assim como de café, estava associado a melhores pontuações em provas de memória verbal.
O consumo de nozes estava relacionado com uma melhor memória de trabalho, e o consumo moderado de vinho estava associado a uma melhor função cognitiva global. A característica comum de todos estes alimentos é o facto de todos terem um alto conteúdo em polifenóis, que são nutrientes com uma importante capacidade antioxidante, anti-séptica e anti-inflamatória.
O stress oxidativo e a inflamação são os principais processos implicados nas diferentes patologias associadas ao envelhecimento. Estes processos participam no desenvolvimento da doença aterosclerótica, base do enfarte do miocárdio, acidentes cerebrovasculares, alterações associadas à diabetes e à neuro-degeneração. Por isso, o consumo de alimentos presentes na dieta mediterrânica, que tem um alto conteúdo em diversos tipos de polifenóis, pode ser útil para contrariar a deterioração cognitiva associada à idade e às doenças cardiovasculares e metabólicas.