Inflamação Global de Mucosas

Inflamação Global de Mucosas : Tantas Doenças São Afinal Uma Só!

Inflamação Global de MucosasOtites de repetição, amigdalites, adenoidites, diarreia, cólicas abdominais, esofagite de refluxo, rinite, tosse irritativa, obstipação, dermatite atópica, asma, são as diferentes doenças habituais das crianças… ou serão as diversas manifestações de uma mesma doença muito habitual nas crianças?
Todas estas doenças – otites de repetição, amigdalites, adenoidites, diarreia, cólicas abdominais, esofagite de refluxo, rinite, tosse irritativa, obstipação, dermatite atópica, asma – têm em comum serem uma inflamação de órgãos de mucosas digestivas, de mucosas respiratórias ou da pele.
A investigação científica tem vindo a evidenciar que a inflamação destes órgãos é uma resposta em uníssono, é uma resposta inflamatória global que sendo despoletada num destes territórios se comunica aos outros arrastando-os a todos, ou alguns deles, para a resposta inflamatória.
Como se forma esta resposta inflamatória global?
Associados a alguns órgãos e mucosas existem órgãos linfóides que são, imaginemos, locais operacionais do sistema imunitário estrategicamente colocados nos órgãos em que, justamente, o corpo humano está em contacto permanente com o mundo exterior.
Cada um tem associado o seu tecido linfóide próprio que adquire o nome do órgão a que está associado:
GALT Gut Associated Linfoide Tissue é o tecido linfóide associado ao intestino;
SATL – tecido linfóide associado à pele;
NALT – tecido linfóide associado ao nariz;
LALT – tecido linfóide associado à laringe;
BALT – tecido linfóide associado aos brônquios;
MALT – o tecido linfóide associado às mucosas digestivas e respiratórias que funciona como um único tecido linfóide.
Estes órgãos linfóides sinalizam e reagem às substâncias estranhas ao corpo humano com as quais entram em contacto. Esta é uma reação imunitária que pode ser de tolerância e indiferença ou pode ser uma reação de defesa mediada por uma resposta inflamatória.
Esta resposta inflamatória do sistema imunitário tem lugar através dos vários tipos de leucócitos, também conhecidos por glóbulos brancos. Os leucócitos quando ativados interagem, comunicam e produzem as substâncias que desencadeiam os processos inflamatórios reativos nos órgãos.
Mas os leucócitos não se mantêm fixos no órgão linfóide onde foram ativados. Estes migram de uns territórios para os outros, intercomunicam a informação imunitária e regressam ao local de sensibilização num sistema regulado conhecido por homing .
Isto significa que, se os leucócitos de um tecido linfóide de um órgão ou mucosa sinalizaram uma substância como externa ao organismo desencadeando o processo imunitário de reação contra essa substância, deram início a uma resposta inflamatória. Na sua migração e intercomunicação com os tecidos linfóides de outros órgãos, os leucócitos vão passando a ativação de resposta inflamatória a esses outros órgãos ou mucosas.
Alguns autores já propuseram a denominação de “síndrome de inflamação das mucosas” para esta sintonia de resposta inflamatória entre a mucosa digestiva, a mucosa respiratória e a pele.

O intestino – o detonador principal

A mucosa intestinal é o órgão do nosso corpo com a maior exposição ao mundo exterior a nós. Está extensamente exposta aos alimentos em processo digestivo e à flora intestinal.
Não admira que o GALT seja o tecido linfóide com um papel da maior relevância na modulação da resposta do sistema imunitário Além disso, através do MALT a resposta imunitária faz-se sentir simultaneamente em todas as mucosas digestivas e respiratórias.
Uma mucosa intestinal fragilizada, inflamada e hiperpermeável é um local de excelência para desencadear uma forte reação dos tecidos linfóides a si associados – GALT e MALT – e comunicar essa reação inflamatória aos outros linfóides localizados na orofaringe, brônquios e pele. A inflamação do intestino é desencadeada essencialmente por:
  • Ingestão de alimentos aos quais o sistema imunitário da pessoa não seja indiferente ou tolerante;
  • A ingestão de múltiplos químicos “não alimentos” ;
  • Uma flora intestinal desequilibrada, para o qual concorre a toma recorrente de antibióticos.
Acresce ainda a ação de alguns fármacos e de alguns fitoterapêuticos e a vivência de ansiedade intensa.

A inflamação global de mucosas

De facto, a pesquisa científica verificou que um aumento da permeabilidade da mucosa intestinal está relacionada com asma na infância.
A asma da infância está relacionada com uma alteração global das mucosas, podendo ser tanto causa ou consequência.
O tipo de microrganismo da flora intestinal pode interferir e modificar as reações alérgicas a partir do interior do intestino.
O intestino estabelece a comunicação entre o nosso organismo e o meio externo e essa comunicação influencia a resposta do sistema imunitário de uma forma global.

Uma nova perspetiva para compreender as doenças recorrentes habituais da infância

À luz destas recentes pesquisas científicas podemos entender que as doenças inflamatórias, infeciosas e alérgicas recorrentes mais comuns da infância são os vários episódios agudos inflamatórios, são as pontas visíveis do iceberg – a inflamação crónica global de mucosas – na qual todos os órgãos linfóides do nariz, garganta, laringe, brônquios, pele, intestino, mucosas respiratórias e digestivas interagem e intercomunicam promovendo uma contínua inflamação cujo desencadeamento é, na sua quase totalidade, iniciada no intestino.
Assim compreendidas, estas doenças podem não só ser tratadas nos seus episódios agudos como desde há décadas se faz de forma bem sucedida, mas prevenidas pelo tratamento da inflamação global de mucosas que lhe está subjacente.
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